quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quem sabe o príncipe virou um chato.

- Um desejo louco alucinado. – depois da confissão, Alice ouviu risinhos do outro lado da linha.
- É isso que você sente por ele? Achei que seria amor... ou paixão. – continuou Isa a debochar.
- Digamos que seja o início de uma paixão.
- E vocês ao menos já se beijaram?
- Não. Por isso ainda é um desejo louco e alucinado.
- E o Thiago?
- O que tem? – perguntou ela com a voz calma, e para sua surpresa, o coração igualmente calmo.
- O que sente por ele? – Isa sabia que esse era o clímax. A pergunta secreta, o que todos queriam saber e tinham medo de falar, para não magoar Alice, talvez. Isa pressionou o telefone no ouvido, ansiosa pela resposta.
- Afeto e gratidão. – palavras firmes, saíram sem muito pensar, apenas a verdade saindo de seus lábios. A voz abafada de repente calou-se, Alice podia imaginar a amiga perplexa, não se deixando acreditar no que ouvira.
- Mas... como assim? – ela insistiu.
- É natural que as pessoas se encontrem e se percam
. – coisas que ela nunca havia pensado, pareciam tão certas agora, tão cheias de clareza.
- Será que é pela distância? – Isa permanecia incrédula. Como um amor tão terno e recíproco acabava-se assim, feito chuva de verão?
- Pode ser que seja. Sei lá. Não penso muito nisso. – Alice agora olhava as margaridas do jardim pela janela da sala, enrolando o fio de telefone com os dedos. Tentava lembrar-se de algum momento com Thiago, e lembrava sim, de vários. Porém nada que lhe fizesse molhar os olhos de saudade. Apenas boas recordações.
- Vocês não se falam a quanto tempo?
- Desde sua partida. Não chorei desde que ele se foi. Era como se levasse todos meus sentimentos com ele. Ou talvez a mágoa não me permitisse sentir falta. Só sei que meu coração permanece no mesmo ritmo se alguém fala seu nome, como aconteceu agora.
- Nossa, já faz bastante tempo. Realmente não sente nem um pouquinho de falta? – Isa queria uma confissão, mas parece que a amiga estava realmente curada das feridas passadas.
- Digamos que já me acostumei com sua ausência.
- Tanto que tem até um alguém a vista, não é? – Isa disse e riu, tentando deixar a conversa mais divertida. Alice também riu, lembrando-se logo em seguida do sorriso do seu atual platônico. E a lembrança já foi suficiente para aquecer seu coração, fazendo com que uma felicidade instantânea percorresse seu corpo.
Ainda conversaram mais alguns minutos. Desta vez as risadas ecoavam nas paredes da sala. Eram amigas há tanto tempo, Alice adorava o jeito despreocupado de Isa, que sempre fazia as coisas parecerem tão fáceis. Ao desligar o telefone, sentou-se no sofá e deixou escapar um suspiro... um misto de saudade(do sorriso do platônico), ansiedade e aquele gosto doce de paixão recente.


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"Você olha para ele e não sabe onde foi parar aquilo tudo que deveria estar eternamente ali. Onde vai parar o sempre quando o sempre acaba? Claro, 'que seja eterno enquanto dure', e então não é eterno, pois a eternidade é infinita e finito é o amor, não é isso?" (Fernanda Young, "O Efeito Urano")

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