sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Consciência embriagada.

Era sexta-feira. E mais uma vez Thiago estava em um bar medíocre, enchendo a cara de vodka. Assim pura mesmo, que é pro efeito ser mais rápido. Que é pra subir logo a cabeça e embaralhar todos os pensamentos e sentimentos. Rodeado de amigos que nem são tão amigáveis, mas se for pra beber, eles estão ao seu lado. Assim são seus finais de semana. Por aí, bebendo em algum lugar, qualquer lugar. Alegando que a cada gole, uma lembrança boa de Alice passa por seus olhos. É só assim que a saudade se torna mais suportável. Fica de porre, chega de manhã em casa, dorme o dia todo e acorda pra beber mais algumas doses. Isso até chegar segunda-feira. Que ele levanta cedo, toma um café bem forte e enfrenta o trânsito e a ressaca pra chegar no trabalho. Emagreceu alguns quilos, conservava olheiras profundas e barba por fazer. Esse era o Thiago decadente e bêbado, sem Alice. O que não falta são erros e justificativas quando se quer terminar um relacionamento. Ás vezes é preguiça de tentar de novo, preguiça de dar um pouco mais de si pra tentar resgatar o que nem sempre está tão perdido assim. Pois bem, sem mais filosofias, era uma sexta-feira e Thiago estava lá, disposto a ingerir qualquer bebida que contivesse álcool, só por um pouquinho de felicidade superficial, já que a verdadeira andava escondendo-se dele nos últimos meses. Levantou-se da mesa para ir até o balcão encher seu copo. E enquanto esperava, sentiu uma mão no seu ombro e logo em seguida ao seu lado estava um homem, meio velho e barbudo de olhos vermelhos e embriagados, que ele nunca havia visto na vida.

- É meu jovem, cedo ou tarde conhecemos a vodka. Temos uma vida inteira de decepções para servir de motivo. Aquele que morreu sem conhecê-la, digo com toda certeza que era a pessoa mais infeliz do mundo. – disse o velho e tomou um grande gole do copo que segurava e apoiou-se no balcão bem próximo de Thiago.

- Não acredito tanto nessa alegria que essa bebida nos proporciona. É falsa, momentânea e seguida de uma ressaca que nem o café mais forte do mundo cura. – respondeu e depois virou todo o conteúdo de seu copo, enxugou a boca com as costas da mão e fez uma careta quando o líquido desceu queimando por sua garganta.

- Imagino que esteja sofrendo por amor, está na sua cara e no seu colarinho amassado, coisa que nenhuma mulher deixaria acontecer. É uma pena que tenha que passar por isso justamente na flor da idade... – o homem agora o encarava decifrando-o como nenhum dos seus “amigos” na mesa conseguiam fazer.

- O destino ás vezes é cruel. – Thiago balbuciou, balançando a cabeça e encarando o nada.

- Mulheres é quem são, meu amigo. E estamos a mercê delas. Mas não se pode mascarar tudo com o álcool. Um dia você terá que enfrentar o ocorrido e seguir com sua vida. Ela deve estar fazendo isso neste exato momento, pra você estar aqui neste estado e não indo atrás dela. – Então era isso? O que ele precisava ouvir havia sido dito por um velho bêbado, num balcão imundo de um bar. E essa era a hora de decidir, agora era matar ou morrer. Ele sabia que não dava pra continuar assim, mas e tinha outra coisa a ser feita?

- Ninguém vai lhe resgatar, só você é capaz disso. O primeiro passo é querer se salvar. Sua vida, depende de você. – Thiago olhou para o lado, afim de encarar o homem e perguntar quem era ele afinal, dizendo todas aquelas coisas e estando exatamente na mesma situação em que ele também estava. Mas ele não estava mais lá. Encarou o seu próprio reflexo na porta de vidro que o separava do lado de fora, e só então entendeu. Levantou-se do banco, e foi andando para a rua. Teria que pegar um táxi de volta pra casa. Verificou os bolsos para saber se ainda havia algo ali. Carteira, chaves, celular. Ok. Respirou fundo, deixando que o ar frio da madrugada entrasse em seus pulmões. Perdemos chances, tempo e juventude todos os dias. Pessoas com uma menor freqüência, claro. Mas também as perdemos. Quando já não há mais nada a ser feito, o que nos resta é apenas... aceitar.

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