sexta-feira, 7 de agosto de 2009

soneto da fidelidade.

19 de outubro de 2009, manhã de reencontro, poemas e pensamentos.

Uma rua. Como outra qualquer. Casas, árvores e uma senhora sentada em sua calçada, fazendo bordados. Não era uma rua muito movimentada. Alice nem sequer sabe o motivo pelo qual entrou naquela rua e não foi pela avenida, como faz todas as manhãs para ir á faculdade. Estava lendo um livro que um amigo lhe emprestou, de poemas. Seu cabelo estava solto, uma tiara afastava-os do rosto, e os cachos que se formavam nas pontas, caiam sobre seus ombros. Vinha andando tão distraída com seus poemas, que nem percebeu quem estava passando ao seu lado. Só quando sentiu aquele perfume, um cheiro que sempre lhe lembrou madeira e torta de maçã, foi que parou de repente e ergueu os olhos. Era Thiago. Quanto tempo fazia que não o via? Fechou o livro, deixando o fim do poema para depois ². Virou-se e viu que Thiago também havia parado na calçada, com um livro em uma das mãos. Ele usava aquela camisa verde que ela lhe dera no natal do ano passado e o jeans preferido. Estava usando óculos agora, e tinha aquela barba por fazer que Alice tanto repugnava.
- Oi. – ele murmurou, dando um sorriso amarelo, tão sem graça quanto ela, pelo reencontro.
- Oi. – ela respondeu, também se sentindo desconfortável.
- O que faz por aqui? – ele sabia muito bem que seu apartamento era duas ruas dali, mas queria olhar para ela por mais um tempo, e quis puxar assunto.
- Estou indo pra faculdade, nem sei porque mudei de caminho hoje... – ela queria terminar a frase e dizer “...acho que já sabia que iria te encontrar”.
- Ah!
- E você?
- Estou indo na casa do meu Tio, que é...
- Na outra rua! – Alice interrompeu, lembrando que toda vez que passava pela rua da padaria, avistava o duplex na esquina.
- Isso! - ele sorriu, desta vez um sorriso menos amarelo. Isso fez com que o coração de Alice batesse forte, tão forte que ela receou que ele o ouvisse. Retribuiu seu sorriso, e percebeu que as mãos de Thiago suavam, entregando seu nervosismo.
- Como está sua mãe? – agora ela que puxava assunto, gostando de perceber que seu sorriso o deixou nervoso.
- Vai bem, sempre pergunta por você. – ele tinha vontade de abraçá-la e precisou concentrar-se para não agir por impulso. Ser impulsivo era seu grande defeito.
- Hum. Preciso ir agora, ou vou me atrasar. – disse ela quebrando o silêncio, depois de alguns minutos de olhares e sorrisinhos-canto-de-boca.
- Ah, claro. Tchau.
Seguiram em direções opostas. Isso já era bem comum entre eles... “seguir em direções opostas”. Alice ainda demorou um pouco para retomar seu poema. Precisava recuperar o fôlego. E Thiago também não recomeçou seu livro de imediato, tinha umas coisas para pensar ¹.

¹ umas coisas para pensar:

Parecíamos dois estranhos. Como se nunca tivéssemos tido toda aquela intimidade que tivemos. Ela estava linda, seu sorriso continua me fascinando, tanto que até fiquei nervoso, tentando controlar minha vontade de abraçá-la e falar que sinto saudades. Nunca vou me perdoar por tê-la perdido. Ainda amo você, Alice.


² o fim do poema para depois:

“Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure”
Soneto da Fidelidade - Vinícius de Morais