segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

your last lie (parte 1)

Aparentemente nada estava diferente. O sofá mantinha suas almofadas intocadas. A xícara de café com marca de batom na mesa da cozinha, deixada por ela na pressa daquela manhã, denunciava que a faxineira não havia estado ali naquele dia. Chovia, chovia muito. E a casa estava escura e silenciosa. Jogou as chaves e a bolsa em qualquer lugar e ao tirar os sapatos teve uma leve impressão de que alguma coisa estava errada. Passou a ter essa certeza, ao atravessar a sala e subir as escadas, fazendo o menor barulho possível. Nem sabia porque não queria ser notada em sua própria casa, mas algo lhe dizia que devia checar tudo em silêncio, antes de tomar o sonhado banho depois de um dia estressante de trabalho. Intuição, apenas. Coisa de mulher. Estava com saudades de Thiago, e se ele ainda não estivesse em casa, iria ligar e usar todos os métodos de persuasão para fazê-lo chegar mais cedo. Afinal, era aniversário de casamento e ele com certeza havia preparado alguma surpresa, sempre haviam surpresas em datas assim, e ela já sentia-se ansiosa. Estava atravessando o corredor, seu quarto era a segunda porta a esquerda e ao se aproximar, ouviu um ruído. Colocou a mão na maçaneta e no segundo em que iria girá-la ouviu uma risada feminina que definitivamente não era a sua, mas que vinha do seu quarto. Hesitou, afastou-se da porta e tentou colocar os pensamentos no lugar. Agora eram duas risadas, uma conhecida, a sua risada, a que lhe pertencia, que costumava sempre vir seguida da sua, ou chamar pela sua... a risada do homem que amava. Não queria abrir a porta. Não queria ver o que achava que iria ver. Mas a vida é cheia de momentos em que temos que fazer algo que não é de nossa vontade. E esse era um deles. Precisaria ver para crer. As risadas se intensificaram, juntas, entrelaçadas, tornando-se um som insuportável de ouvir. Alice foi tomada por uma raiva crescente, seu coração agora queria sair pela boca e ela contou até três e abriu a porta antes que se arrependesse de tê-lo feito. Thiago estava lá, deitado na cama que lhes pertencia, com outra mulher. Eles se divertiam e riam, cobertos pelos lençóis que ela havia escolhido e comprado. Tudo ali era seu. E sentiu que se perderam no segundo em que viu que outra mulher ocupava o seu lugar. Sim, ele havia preparado uma surpresa. Thiago pôs-se de pé num salto, atordoado, e começou a falar, deixando que as palavras mais idiotas e mentirosas que um dia inventaram para essas situações, saíssem de sua boca:
- Não é nada disso que está pensando!

Continua...