sexta-feira, 16 de julho de 2010

o fim.

- Eu... eu me apaixonei por outra pessoa. – ela disse assim, sem medir as palavras, sem pensar nas conseqüências, sem imaginar que estrago aquilo faria nos ouvidos e no coração dele. Ao fim da frase, de rabo de olho, viu os ombros de Thiago despencando e suas mãos antes escondidas debaixo de braços cruzados, correrem ao encontro de seu rosto, para escondê-lo. Não teve coragem o suficiente para olhá-lo, então pôs se a encarar os sapatos.
- Quem é? – sua voz era um murmúrio tão baixo, que se ela já não estivesse esperando por essa pergunta, não conseguiria entender o que ele dizia.
- Não acho que seja necessá...
- NÃO É NECESSÁRIO? – de repente seus olhos se estreitaram demonstrando a raiva que percorria seu corpo e sua voz ficou tão alta que ecoava pela sala quase vazia, não fosse pelas caixas de mudança e o sofá.
- Porque você precisa tanto saber?
- PORQUE É NORMAL QUERER SABER COM QUEM ESTOU SENDO TRAÍDO. – pôs se de pé num salto, chutando algumas caixas que estavam a sua frente.
- Mas, eu não traí você!
- QUEM É ELE?
- ...
- QUEM É ELE? – desta vez ele gritou mais alto, insistindo por uma resposta.
- Nós nunca nem nos beijamos, a gente só conversa e...
- E COMO SE APAIXONOU POR ELE, ENTÃO?
- E-eu...
- ACHA MESMO QUE PORQUE NUNCA SE BEIJARAM SUA CULPA SE TORNARÁ MENOR?
- Ficaria mais fácil conversar se você parasse de gritar, Thiago. – ela disse em meio a um suspiro de cansaço.
- NÃO ME DIGA O QUE FAZER! NÓS FINALMENTE ESTÁVAMOS BEM E VOCÊ ESTÁ DESTRUINDO ISSO. – ele levanta os braços com indignação e os leva a cabeça, num gesto de desespero.
- PELO MENOS TIVE A DECÊNCIA DE CONTAR A VERDADE, DE NÃO TERMINAR COM VOCÊ, DE NÃO TENTAR TE COLOCAR A CULPA! – Alice finalmente se permitiu falar o que queria, sem engolir seus sentimentos criando um nó cego em seu estômago, deixando as palavras transparecerem aquilo que realmente sentia. Não temia mais nada, não precisava mais preservar aquele sentimento, nem ser a única a se preocupar com a relação dos dois.
- Eu sei disso... – seus músculos agora relaxavam, voltou a sentar-se e cobrir as mãos com o rosto. – Até nessas horas você me dá motivos para acreditar que eu não sou bom o bastante pra você. – balbuciou, com a voz abafada.
Alice não tinha o que dizer. Sabia exatamente a dor que Thiago sentia, e não desejava isso para ele apesar das inúmeras vezes que ele lhe causou o mesmo. Começou a sentir uma coisa estranha, algo que nunca havia sentido por ele, o pior sentimento que se pode sentir por alguém nessas horas: pena. Segurou o impulso de afagar seus cabelos, ou de falar alguma coisa que lhe confortasse. Porém, todo o esforço foi em vão. Virou-se para Thiago e tirou as mãos que cobriam seu rosto devagar. Encarou-o no fundo dos olhos, que agora estavam vermelhos e haviam lágrimas escorregando por sua bochecha.
- Desculpe. – ficou um momento em silêncio, apenas olhando seus olhos, entrando o mais fundo que podia em sua alma. – Por toda a dor que estou lhe causando. – Dava pra sentir a sinceridade em suas palavras.
- Não me olhe desse jeito, não sinta pena de mim. – Ele afastou suas mãos devagar e enxugou o rosto com as costas da mão. “Já te fiz pior” ele pensou, mas não disse. Era covarde demais para isso. Alice levantou-se e pegou sua bolsa.
- Você já vai? – ele olhou para ela, com aqueles olhos que não pedem, suplicam.
- Sim.
- Mas tá faltando algo...
- O quê?
- Poxa, já é difícil eu olhar para você e perceber que você é dele. Só preciso que me diga. Eu não ficarei curado de você, mas ficarei aliviado. – as palavras saíram sofridas, porém parecia muito a voz de um garoto mimado pedindo desesperadamente a mãe para lhe fazer uma vontade.
Alice encara Thiago. “Como é que eu já fui capaz de amar você?” Ela se aproxima e o beija. Um beijo sem gosto, sem amor nenhum. Ele tenta resgatar algum pouco de sentimento que ainda reste, puxando-a para mais perto, envolvendo-a em seus braços. Mas ela termina o beijo, encosta a testa na dele, segurando sua nuca e deixa a última lágrima escorrer.
- Você me amou... – ele diz. E ela apenas vira as costas e sai, fechando a porta e deixando trancado ali dentro todo o seu passado. Parou um momento no hall, respirou fundo. Sentia que estava pronta para descer as escadas...e recomeçar.